Arquivo Público
Em meio aos papéis amarelados pelo tempo, bordas corroídas e manuscritos praticamente ilegíveis, os acervos documentais se expressam como vestígios materiais de fatos, ações e pessoas. Na esquina das Ruas Senador Alencar e Senador Pompeu, parte desse acervo tem seu lugar no antigo Solar dos Fernandes Vieira, edificação em estilo neoclássico, do século XIX. Com 15 janelas no térreo e 19 sacadas no pavimento superior, o Arquivo Público do Estado é lugar de memória.
O Arquivo Público do Ceará, espaço destinado à pesquisa difusão de acervos documentais de interesse do Ceará e do Brasil, acaba de passar por uma completa reestruturação. Desde janeiro de 2016, todo o acervo do equipamento esteve disponibilizado aos pesquisadores em um espaço provisório - os antigos galpões da RFFSA - ao lado da Praça da Estação, onde já funcionam a Biblioteca Pública Espaço Estação e as salas dos Conselhos Estadual de Política Cultural (CEPC) e de Preservação do Patrimônio Cultural (Coepa).
A substituição da cobertura de madeira por uma de estrutura metálica, bem como a a reforma da instalação hidráulica e elétrica do espaço são ações recentemente concluídas; além disso, a reforma da pintura interna e externa, recuperação das portas e janelas e ampliação da capacidade de armazenamento. De acordo com Paulo Renato De Melo, supervisor de arquitetura do equipamento, “a estrutura ideal de um arquivo deve sempre preservar a originalidade constitutiva e arquitetônica do espaço, observando que no ato do tombamento ficam preservadas as alterações decorrentes do uso no transcurso do tempo.”
“Depois que o mal está causado é mais difícil reparar”, considera Márcio Porto, diretor do Arquivo. “Se você tem um prédio cheio de goteiras, com fios aparentes, coberta com madeira, colônia para cupins, evitar todo tipo de madeira, dificilmente existe uma prevenção efetiva.”
Apesar da reforma, o pesquisador Márcio Assumpção acredita que o olhar do poder público para os acervos no Brasil ainda é pouco promissor. “Existe um descaso muito grande por parte do poder público para viabilizar as ações.” Segundo ele, parte dos equipamentos data dos séculos XVIII e XIX, mas a idade não é o principal motivo para desencadear a situação de desgaste nesses locais.
Infraestrutura e Políticas Públicas
Sobretudo em acervos documentais, por exemplo, os contatos devem ser evitados por questões de segurança e conservação. Porém, alguns reparos são necessários com certa frequência. No Arquivo Público, esse cuidado é feito por 12 profissionais que trabalham no local, dentre arquitetos, historiadores, engenheiros. Jorismar de Freitas, por exemplo, é do setor de digitação e trabalha no Arquivo há 20 anos. Nosso setor funciona como uma espécie de cartório porque nós digitamos e fazemos o segundo traslado de documentos solicitadas para o arquivo”, conta.
Acervo
Os arquivos públicos, os arquivos em geral, os museus e as bibliotecas são na verdade nossos lugares de memória, onde a gente costuma deixar todo nosso patrimônio documental, isso pode ser livro, documento de arquivo, que são documentos administrativos ou então peças de museus que também são relativos a nossa cultura e a nossa história também.
Para a preservação adequada de como o Arquivo Público, uma rotina de observação e higienização dos objetos do acervo é essencial. Para Juliana Buse, do Laboratório de Restauro e Preservação de Acervos da Universidade Federal do Ceará, a primeiro passo é conhecer o acervo. “Saber quais são as diferenças e as similaridades que existem entre a coleção é essencial”, afirma.
Após entender quais são as especificidades de cada suporte, a partir daí se pode tomar decisões relacionadas relacionadas ao controle ambiental: temperatura, umidade, iluminação, fungos. A conservadora também explica que a falta de diálogo entre profissionais de conservação prejudica a criação de boas condições para estes espaços. “Em geral você tem arquitetos e engenheiros que não tem domínio sobre a temática, mas que tem uma dificuldade muito grande de dialogar com profissionais de outras áreas”, completa.